Os principais atacantes da seleção brasileira em 1994 e 2002 – Romário e Ronaldo – aproveitaram a Copa 2014 para fazer política. Romário elegeu-se deputado federal pelo PSB em 2010 e, neste primeiro mandato, firmou-se como crítico da Fifa e defensor dos direitos de portadores de Síndrome de Down. Ronaldo usou a Copa para aproximar-se da CBF e de dirigentes como Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, com quem já tinha relação profissional desde que voltou a jogar em 2009. Participa, também, do Comitê Organizador Local (COL) da Copa.
Ronaldo deu uma entrevista para o “Valor Econômico” na qual critica os governos federal e estaduais que estão organizando a Copa. Destaco três de suas falas.
1) “A Copa veio como uma grande oportunidade. Todo o investimento que está sendo feito terá um retorno triplicado, com a vinda de turistas, com o consumo.”
Retorno triplicado? Estudos sobre as três Copas mais recentes (África do Sul, Alemanha, Japão/Coréia do Sul) mostram algo diferente. Na Alemanha, o impacto positivo da Copa para o PIB do país foi estimado em 0,1%. Na África do Sul, o principal ganho foi do setor hoteleiro, que aumentou 50% durante a Copa. Não há evidência alguma, nos estudos publicados até agora, de que a Copa “triplica o retorno” de quem quer que seja.
2) “O Brasil ainda tem um potencial muito grande a ser alcançado, nós recebemos poucos turistas por ano. Nós recebemos acho que seis milhões de turistas por ano. Isso é o mesmo que recebe uma cidade grande, acho que Nova Iorque.”
Nova Iorque recebe cerca de 40 milhões de turistas por ano.
3) “Itens da Lei Geral da Copa tiveram que ir à votação no Congresso, iam e voltavam até que chegavam na presidenta de novo. Enfim, foi uma novela.”
Ninguém toma decisões unilaterais no Brasil. Presidentes e parlamentares – e organizações que queiram sediar eventos no país – são constrangidos por regimentos internos, artigos constitucionais e pressão popular. Isso resulta em idas e vindas, decisões revertidas, diálogo, discussão. O que Ronaldo chama de “novela” nós poderíamos chamar de “sistema político representativo”.
Com essa postura política desinformada e a ingenuidade de um espertalhão que Ronaldo exibe, torço para que uma coisa aconteça nesta Copa: que Miroslav Klose, atacante da Alemanha, faça seu 15º gol em Copas e bata o recorde de Ronaldo.
Fonte: Sergio Praça - Época Negócios
Comentários